quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
domingo, 11 de fevereiro de 2018
quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018
DERBAKE: MULHER TOCA ISSO, SIM!!! | ||
Especialista desvenda a história de um instrumento musical milenar com um quê super feminino | ||
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Há pelo menos quinze anos, quando, já como professora de música, tive contato com o universo da música árabe em São Paulo, percebi que homens e mulheres dançavam, mas que em uma proporção muito maior os homens preenchiam a função dos músicos.
Finalmente, quando me deparei com um curso de derbake (instrumento de percussão árabe, praticamente sua base rítmica) voltado a um grupo de mulheres, e ministrado pelo querido e talentoso Alex Nasser, resolvi, ao ceder o nosso Espaço Musical, participar também de tal processo. Pouco depois do início das aulas, resolvi adquirir um instrumento, sendo o centro da cidade o local mais indicado para compra em São Paulo. Com muito estranhamento o vendedor se dirigiu a mim quando, ao invés de roupas, narguilés e tabaco, o meu pedido foi "ver os modelos de derbake disponíveis". -É para quem? - indagou. Ao que respondi "para mim", voltou-se em atitude irreverente para um ajudante que empilhava caixas no fundo da loja. Sentei e comecei a tocar... A explorar os timbres da pele, os rítmos básicos...A preencher os ritmos com os rufares de dedos próprios do instrumento, que não é coisa de iniciante... Ficaram calados, até que o dono da loja retirou o instrumento da minha mão e começou a "demonstrar" como se tocava, mais grosseiramente e pegando um de cada vez... tocava por pouquíssimo tempo cada um, e passava para o próximo. "É... são quase iguais, aí você escolhe o que quiser.
Enquanto escolhia e acompanhava o ajudante a embrulhar um dos instrumentos (que cheirava a chocolate, porque estava guardado em uma prateleira de fumo aromatizado), o dono da loja se dirigiu a mim: - Quem é o seu professor? -Disse o nome dele ( eles conheciam o músico). - Ah, mas esse [...] está inventando moda agora? Onde já se viu?
Onde já se viu? Em toda história da música árabe! Mulher toca isso, sim!!!
A jornalista, tradutora, bailarina e professora de dança árabe Giselli Habibi realizou um levantamento de pesquisas acerca da prática musical com estes tambores milenares e descobriu que eles têm um quê de feminino mais do que se imagina.
O derbake é um instrumento de percussão de pele ( membranofone). Mais especificamente, é um tambor de taça que ao longo da história foi fabricado em argila, alumínio ou madeira com uma pele de cabra ou remendo de peixe.
O professor Philippe Vigreus, um dos mais renomados especialistas sobre o assunto, afirma que seus primeiros registros datam de 3600 A.C. na região da Mesopotâmia, sendo também parte do folclore de vários países da Europa Oriental, como a Grécia, a Iugoslávia e a Albânia, devido à influência turca e hoje representa para centenas de milhões de árabes o instrumento popular por excelência. Por meio do levantamento de imagens em pinturas, gravuras, esculturas, e posteriormente fotografias, há sim, registros incontestáveis de que as mulheres faziam parte desse rico universo musical, não apenas dançando, mas tocando. Seguem algumas imagens:
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Ilustração de meados do século XIII
E afirma Giselle: A mulher, à direita na imagem, tem uma ta'rija no ombro dela. A introdução do derbake na Espanha deveria ter ocorrido durante o período Andalus, estado muçulmano que governava grande parte da Península Ibérica e Septimania de 711 a 1492.
De acordo com o trabalho: "Os tambores de cerâmica de al-Andalus (s. VIII-XIV): uma abordagem da Arqueologia Musical" de Raquel Jiménez Pasalodos e Alexandra Bill: "esta iconografia é muito interessante, não só porque indica que Eles não eram propriedade exclusiva dos muçulmanos, mas também estão nas mãos de uma mulher musicista profissional ". Ainda sobre a Espanha, afirmam que os tambores cerâmicos são os instrumentos musicais mais comuns no registro arqueológico andaluz.
Há também uma ilustração em tinta e guache intitulado "Mulher com dümbelek" um livro de fantasias da Turquia adquiridos em Constantinopla em 1657 por Claes Rålamb e incluídos na coleção da Biblioteca Real da Suécia em 1886.
Este trabalho é feito pelo pintor francês Jean Joseph Benjamin Constant (1845-1902) que visitou Marrocos em 1872. É intitulado: "Intérieur de harem"
Um tambor de mulheres?
Seguindo a trilha da darbuka, encontrei várias imagens de mulheres tocando a darbuka.
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Derbakista tunisino. 1890
De acordo com o professor Frédéric Lagrange, especialista em música egípcia do século XIX e XX na Universidade da Sorbonne, em Paris, ao contrário do que pude perceber das comunidades praticantes em SP, este instrumento era predominantemente feminino,
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"O dia após o casamento" Trabalho de Mohamed Racim, fundador da escola em miniatura argelina. (1896-1975).
Estes eram grupos de artistas que tocavam vários instrumentos musicais, cantavam e dançavam. Esses grupos de mulheres se educaram, perpetuaram as formas antigas e clássicas de poesia, música e cantar árabe.
Os awalim não estavam apenas presentes no Egito, mas também em outros países como a Argélia.
O orientalismo fantasiou sobre o awalim (em francês: almées ), e devido às imagens capturadas por pintores como Leopold Carl Müller da Áustria (1834-1892), eles foram confundidos com o ghawazee , artistas de rua.
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